quinta-feira, 31 de março de 2011

A QUEM INTERESSAR POSSO DE CAIO FERNANDO DE ABREU

Eu não tenho culpa. Não fui eu quem fez as coisas ficarem assim desse jeito que não entendo, que não entenderia nunca. Você também não tem culpa, vou chamá-lo de você porque nin-guém nunca ficará sabendo, nem era preciso, a culpa é de todos e não é de ninguém. Não sei quem foi que fez o mundo assim horrível às vezes quando ainda valia a pena eu ficava horas pensando que podia voltar tudo a ser como antes muito antes dos edifícios dos bancos da fuligem dos automóveis das fábricas das letras de câmbio e então quem sabe podia tudo ser de outra forma depois de pensar nisso eu ficava alegre quem sabe quem sabe um dia aconte-ceria mas depois pensava também que não ia adiantar nada e tudo começaria a ficar igual de novo no momento que um homem qualquer resolvesse trocar duas pedras por um pedaço de madeira porque a madeira valia mais e de repente outra vez iam existir essas coisas duras que vejo da janela na televisão no cinema na rua em mim mesmo e que eu ia como sempre sair caminhando sem saber aonde ir sem saber onde parar onde pôr as mãos os olhos e ia me dar aquela coisa escura no coração e eu ia chorar chorar durante muito tempo sem nin-guém ver é verdade tenho pena de mim e sou fraco nunca antes uma coisa nem ninguém me doeu tanto como eu mesmo me dôo agora mas ao menos nesse agora eu quero ser como eu sou e como nunca fui e nunca seria se continuasse me entende eu não conseguiria não você não me entendeu nem entende nem entenderia você nem sequer soube sabe saberá amanhã você vai ler esta carta e nem vai saber que você poderia ser você mesmo e ainda que soubesse você não poderia fazer nada nem ninguém eu já não acredito nessas coisas por isso eu não te disse compreende talvez se eu não tivesse visto de repente o que vi não sei no mo-mento em que a gente vê uma coisa ela se torna irreversível inconfundível porque há um mo-mento do irremediável como existem os momentos anteriores de passar adiante tentando arrancar o espinho da carne há o momento em que o irremediável se torna tangível eu sei disso não queria demonstrar que li algumas coisas e até aprendi a lidar um pouco com as palavras apesar de que a gente nunca aprende mas aprende dentro dos limites do possível acho não quero me valorizar não sou nada e agora sei disso eu só queria ter tido uma vida completa elas eram horríveis mas não quero falar nisso podia falar de quando te vi pela primeira vez sem jeito de repente te vi assim como se não fosse ver nunca mais e seria bom que eu não tivesse visto nunca mais porque de repente vi outra vez e outra e outra e enquanto eu te via nascia um jardim nas minhas faces não me importo de ser vulgar não me importa o lugar-comum dizer o que outros já disseram não tenho mais nada a resguardar um momento à beira de não ser eu não sou mais tudo se revelou tão inútil à medida em que o tempo passava tudo caía num espaço enorme amar esse espaço enorme entre mim e você mas não se culpe deixa eu falar como se você não soubesse não se culpe por favor não se culpe ainda que esse som na campainha fosse gerada pelos teus dedos eu não atenderia eu me recuso a ser salvo e é tão estranho o entorpecimento começa pelos pés aquela noite eu ainda esperava quase digo sem querer teu nome digo ou escrevo não tem importância vou escrevendo e falando ao mesmo tempo com o gravador ligado é estranho me desculpa saí correndo no parque e me joguei na água gelada de agosto invadi sem ter direito a névoa dos canteiros destaquei meu corpo contra a madrugada esmaguei flores não nascidas apertei meu peito na laje fria do cimento a névoa e eu o parque e eu a madrugada e eu costurado na noite cerzido no escuro porque me dissolvia à medida em que me integrava no ser do parque e me desintegrava de mim mesmo preenchendo espaços aqueles enormes es'paços brancos terrivelmente brancos e você não teve olhos para ver que o parque era você a água você a névoa você a madrugada você as flores você os canteiros você o cimento você não teve mãos para mim só aquela ternura distraída a mesma dos edifícios e das ruas mas eles me desesperavam você me desesperava eu não quero falar nelas mas elas estão na minha cabeça como os meus cabelos e as vejo a todo instante cantando aquela canção de morte a minha carne dilacerada e eu ridículo queria ter uma vida completa você não se parecia com Denise tinha os olhos de mangaba madura os mesmos que tive um dia e perdi não sei onde não sei por que e de repente voltavam em você nos cabelos finos muito finos finos como cabelos finos 'minto que me bastaria tocá-los para que tudo fosse outra vez mas não toquei eu não tocaria nunca na carne viva e livre eles me rotularam me analisaram jogaram mil complexos em cima de mim problemas introjeções fugas neuroses recalques traumas e eu só queria uma coisa limpa verde como uma folha de malva aquela mesmo que existiu ao lado do telhado carcomido do poço e da paineira mas onde me buscava só havia sombra eu me julgava demoníaco mas não pense que estou disfarçando e pensando como-eu-sou-bonzinho-porque-ninguém-me-ama eu me achava envilecido me sentia sórdido humilhado uma faixa de treva crescia em mim feito um câncer a minha carne lacerada estou dentro dessa carne lacerada que anda e fala inútil a carne conjunta das xifópagas e o vento um vento que batia nos ciprestes e me levava embora por sobre os te-lhados as cisternas as varandas os sobrados os porões os jardins o campo o campo e o lago e a fazenda e o mar eu quero me chamar Mar você dizia e ria e ríamos porque era absurdo alguém querer se chamar Mar ah mar amar e você dizia coisas tolas como quando o vento bater no trigo te lembrarás da cor dos meus cabelos você não vai muito além desses príncipes pequenos suas palavras todas não tenho culpa não tenho culpa eram de quem pedia cativa-me eu já não conseguiria bem lento eu não conseguiria eu não sei mais inventar. a não ser coisas sangrentas como esta a minha maneira de ser um momento à beira de não mais ser não me permite um invento que seja apenas um entrecaminho para um outro e outro invento mesmo a destruição tem que ser final e inteira qualquer coisa tem que ser a última uma era inteira e a outra nascia da cintura e existia só da cintura para cima como um ipsilone mole esponjosa uma carne vil uma carne preparada por toda uma estrutura de guerras epidemias pestes ódios quedas eu me sentia culpado ao vê-Ias assim nosso podre sangue a humanidade inteira nelas que não riam e cantavam aquela sombria canção de morte brutalmente doce elas cantavam e minhas costas doíam como se eu sozinho as sustentasse e não uma à outra mas eu eu com este sangue apodrecido que assassina crianças de fome droga adolescentes bombardeia cidades e também você e todos nós grudados indissoluvelmente grudados nojentos mas me recuso a continuar ninguém sofrerá por mim sem mim chorar ninguém entende nem precisa nem você nem eu o anel que tu me deste sobre a folha que me contém sem compreender sem compreender que você carrega toda uma culpa milenar e imperdoável a História como concreto sobre os teusmeusnossos ombros Cristo sobre nossos ombros todas as cruzes do mundo e as fogueiras da inquisição e os judeus mortos e as torturas e as juntas militares e a prostituição e doenças e bares e drogas e rios podres e todos os loucos bêbados suicidas desesperados sobre os teus meus nossos ombros leves os teus porque não sabes sim sim eu tenho culpa não é de ninguém esse desgosto de lâmina nas entranhas não é de ninguém esse sangue espantado e esse cosmos incompreensível sobre nossas cabeças não posso ser salvo por ninguém vivo e os mortos não existem a fita está acabando começo a ficar tonto a dormência chegou quem sabe ao coração talvez eu pudesse eu soubesse eu devesse eu quisesse quem sabe mas não chore nem compreenda te digo enfim que o silêncio e o que sobra sempre como em García Lorca solo resta el silêncio un ondulado silêncio os espaço de tempo a nos situar fragmentados no tempoespaçoagora não sei onde fiquei onde estive onde andei nada compreendi desta travessia cega a mesma névoa do parque outra vez a mesma dor de não ser visto elas gritam sua canção de morte este sangue nojento escorrendo dos meus pulsos sobre a cama o assoalho os lençóis a sacada a rua a cidade os trilhos o trigo as estradas o mar o mundo o espaço os astronautas navegando por meu sangue em direção a Netuno e rindo não não quebres nunca os teus invólucros as tuas formas passa
Lentamente a mão do anel que eu te dei e era vidro depois ri ri muito ri bêbado ri louco ri ate te surpreenderes com a tua não dor até te surpreenderes com não me ver nunca mais e com a desimportancia absoluta de não me ver nunca mais e com minha mão nos teus cabelos dis-tante invisível intocada no vento
Perdida a minha mão de espuma abrindo de leve esta porta assim:
(In "O Inventário do Ir-remediável")

quarta-feira, 30 de março de 2011

Está sentindo o fim chegar?

Eu sinto o frio que anuncia o fim dessa estação

E com ela o aroma de uma nova tempestade

Sinto cheiro de algo parecido com a esperança

Então não nos perca agora

Pois a hora esta chegando

O ciclo esta se fechando

E você já pegou seu casaco de lã?

Vamos para um passeio que, talvez não tenha fim

Ou não tenha volta, portanto não se preocupe em fechar as portas

Ou puxar as cortinas, os animais não sentiram nossa falta

E as roupas no varal elas secaram um dia

Mas você não vai precisar usa-las

Então não nos perca tempo agora

Pois a hora esta chegando

O ciclo esta se fechando

E você já abotoou seu casaco de lã?

As ruas estão desertas e apenas pássaros voam no céu

As nuvens se esconderam e os risos foram embora com elas

Assim como todas as tristezas

Você jamais sentirá desejos novamente

Você olhará apenas para o branco eterno

Então não nos perca tempo agora

Pois a hora esta chegando

O ciclo esta fechando

E você já terminou seu casaco de lã?

Não haverá mais estações

Portanto previna-se

Pois a hora esta chegando

Por favor termine, pegue e abotoe seu casaco de lã!

terça-feira, 29 de março de 2011

Busco respostas

Desenhando no papel minha vida

Encontro longos castelos negros

Escorrendo mentiras pela paletas em minhas mãos

Sou um corvo apático ensaiando vôos noturnos gelados

Em busca de respostas pelas ruas antigas que vivi

Fragmentando cada passo dado na infância

Para perceber onde errei, onde cai e se de la eu realmente sai

Ainda tenho a sensação de estar sempre afogando

Entregando a alma ao guardião negro da vida

Respostas a beira da morte nem sempre são reveladoras

estão perdidas eu sei, aqui mesmo nesta esfera

Nesta vida, incontida em algum momento

Forjada de mim eu sei que foi toda a razão

Procuro sem rumo, sem bússola

Perdido pelo horizonte

Embaixo da agua que quase me afoguei

E nada encontrei

Busco por respostas que nem mesmo eu sei

Encontrei a fonte desejei meus anseios

A moeda bateu fundo

brilhou

Mas a fonte secou

Meus desejos foram desfeitos

Respostas

Busco

Apenas

Para continuar a sobreviver..

Luciano olivera

11/04/06



segunda-feira, 28 de março de 2011



Na caverna escura apenas uma lembrança se acesnde em meio ao breu

A quase impercepitivel certeza do mundo La fora

Então percorra lentamente seus dedos em seus cadernos velhos e folhetos impressos

E encontre algo de seu passado que lhe traga um momento feliz

Encontre você em meio a tanta discrepâncias

Em meio a tanto caos

Em meio a tantos caminhos

Encontre você mesmo na escuridão de sua caverna

Permita o sol entrar

Permita a luz dissepar as trevas

Permita viver intensamente La fora

Permita-se

Encontre-se

Entrege-se

Se você for capaz!



sexta-feira, 25 de março de 2011

Mas antes de qualquer release deste filme, vale ressaltar um apergunta que se faz n o filme após uma chuva de sapos - o que vc esta fazendo de sua vida, vai esperar algo absurdo acontecer para mudar o rumo de seu destino...

Magnólia, o filme, acompanha um único dia da vida de vários personagens, cujas histórias se interligam a todo instante. O roteiro se preocupa em, rapidamente, apresentar cada um deles, até como forma de o espectador se situar na trama. Assim, temos Earl Partridge (Jason Robards), um sexagenário produtor de televisão, que está em seu leito de morte, aguardando o câncer encerrar o trabalho que já iniciou. Ele é casado com Linda (Julianne Moore, em um de seus vários filmes de 1999), uma mulher muitos anos mais jovem, que aceitou o casamento unicamente pelo dinheiro, mas que, naquelas horas finais, descobre que o ama. Earl tem ao seu lado o enfermeiro Phil Parma (Philip Seymour Hoffman), uma boa pessoa, que sensibiliza com os problemas de seu paciente, e luta para colocá-lo ao lado de seu filho, Frank Mackey (Tom Cruise), antes do evento trágico. Este, por sua vez, é uma espécie de Lair Ribeiro da sexualidade, que ensina aos homens a árdua e heróica tarefa de como seduzir e conquistar as mulheres. Paralelamente, Jimmy Gator (Philip Baker Hall) é um âncora de um programa tipo O Céu É O Limite, produzido por Earl, e que é exibido há mais de 30 anos. Ele também está combalido pelo câncer, e com pouco tempo de vida. Do ponto de vista pessoal, Jimmy tem problemas de relacionamento com sua filha Claudia (Melora Walters), rebelde, viciada em drogas pesadas, e que se entrega ao sexo com estranhos. Ela encontra no policial de rua, Jim Kurring (John C. Reilly), uma chance de estruturar novamente sua vida. Do ponto de vista profissional, Jimmy, pressionado pelo câncer e pela ausência de diálogo com a filha, começa a ter dificuldades de comandar o espetáculo televisivo, respondendo de antemão as perguntas que ele mesmo elaborou para seus candidatos. Um deles é o garoto Stanley Spector (Jeremy Blackman), um gênio de conhecimentos gerais, que está prestes a bater o recorde do programa e, por isso, receber um boa quantia em dinheiro como prêmio, sobre o qual seu pai não vê a hora de colocar as mãos. Enquanto isso, Donnie Smith (William H. Macy), famoso por ter sido, no passado, o detentor deste recorde, atualmente é um quarentão fracassado, lutando para manter-se no emprego de favor, e tentando conquistar um jovem barman.

Basta este quadro para se perceber a complexidade de temas e relacionamentos trazidos em Magnólia. Inevitavelmente, estas histórias se cruzam ao longo do filme, montando um ambicioso painel da sociedade média americana. Anderson parece ter carinho especial com cada um de seus personagens, pois concede a eles tempo de cena suficiente para que demonstrem sua importância no contexto geral.


quinta-feira, 24 de março de 2011



Papai do céu não me deixe Sozinho

Bons tempos para o demonio

Eu sou a força do céu.

Papai do céu não me Deixe sozinho

Muitas vezes eu me sinto triste

Triste triste No chão

Papai do céu não me deixeSozinho

Nossa! eu neste mundo...

Papai do céu não me deixe

Sozinho

quarta-feira, 23 de março de 2011


GUERRA DE SOMALIA

O silencio pairava entre o céu e o inferno

Ouviam ao longe...

Muito longe apenas gritos entrecortados

O coração disparado pela fumaça

Os olhos vermelhos choravam

Lágrimas de cinza

A dor era chama viva

A esperança um sino que recusa ecoar sua balada

Às seis horas do pôr do sol

Rubro de manchas dilaceradas

Apenas o silencio entre o céu e o inferno

Pois na terra ouviam se de longe os tiros entrecortados

A beleza desfigurada e a dor transpassada por um estado de paz e ardor

A esperança era a única saída e estava obstruída pelo ódio

O ódio aparecia no rosto dos homens

Na água salgada que escorre em uma batalha

Sem heróis

Apenas a morte rainha insólita

Dessa guerra que cala o céu e o inferno

E sangra a terra

E sangra o homem

Para um destino só

Morte...

Luciano Oliveira

05/02/04